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sexta-feira, 23 de abril de 2010

Felicidade realista

A princípio, bastaria ter saúde, dinheiro e amor, o que já é um pacote louvável, mas nossos desejos são ainda mais complexos.
Não basta que a gente esteja sem febre: queremos, além de saúde, ser magérrimos, sarados, irresistíveis.

Dinheiro? Não basta termos para pagar o aluguel, a comida e o cinema: queremos a piscina olímpica e uma temporada num spa cinco estrelas.

E quanto ao amor? Ah, o amor.. não basta termos alguém com quem podemos conversar, dividir uma pizza e fazer sexo de vez em quando. Isso é pensar pequeno: queremos AMOR, todinho maiúsculo. Queremos estar visceralmente apaixonados, queremos ser surpreendidos por declarações e presentes
inesperados, queremos jantar à luz de velas de segunda a domingo, queremos sexo selvagem e diário, queremos ser felizes assim e não de outro jeito. É o que dá ver tanta televisão.

Simplesmente esquecemos de tentar ser felizes de uma forma mais realista.

Ter um parceiro constante, pode ou não, ser sinônimo de felicidade. Você pode ser feliz solteiro, feliz com uns romances ocasionais, feliz com um parceiro, feliz sem nenhum. Não existe amor minúsculo, principalmente quando se trata de amor-próprio.

Dinheiro é uma benção.
Quem tem, precisa aproveitá-lo, gastá-lo, usufruí-lo. Não perder tempo juntando, juntando, juntando. Apenas o suficiente para se sentir seguro, mas não aprisionado. E se a gente tem pouco, é com este pouco que vai tentar segurar a onda, buscando coisas que saiam de graça, como um pouco de humor, um pouco de fé e um pouco de criatividade.

Ser feliz de uma forma realista é fazer o possível e aceitar o improvável. Fazer exercícios sem almejar passarelas, trabalhar sem almejar o estrelato, amar sem almejar o eterno.

Olhe para o relógio: hora de acordar.
É importante pensar-se ao extremo, buscar lá dentro o que nos mobiliza, instiga e conduz mas sem exigir-se desumanamente. A vida não é um jogo onde só quem testa seus limites é que leva o prêmio. Não sejamos vítimas ingênuas desta tal competitividade.

Se a meta está alta demais, reduza-a. Se você não está de acordo com as regras, demita-se. Invente seu próprio jogo.

Faça o que for necessário para ser feliz. Mas não se esqueça de que a felicidade é um sentimento simples, você pode encontrá-la e deixá-la ir embora por não perceber sua simplicidade. Ela transmite paz e não sentimentos fortes, que nos atormenta e provoca inquietude no nosso coração.
Isso pode ser alegria, paixão, entusiasmo, mas não felicidade...

Por Martha Medeiros

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Só de sacanagem!

Meu coração está aos pulos! Quantas vezes minha esperança será posta a prova? Por quantas provas terá ela que passar?
Tudo isso que está aí no ar: malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro. Do meu dinheiro, do nosso dinheiro que reservamos duramente pra educar os meninos mais pobres que nós, pra cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais. Esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e eu não posso mais. Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz, minha confiança vai ser posta a prova? Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais? É certo que tempos difíceis existem pra aperfeiçoar o aprendiz, mas não é certo que a mentira dos maus brasileiros venha quebrar no nosso nariz. Meu coração tá no escuro. A luz é simples, regada ao conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e todos os justos que os precederam. 'Não roubarás!', 'Devolva o lápis do coleguinha', 'Esse apontador não é seu, minha filha'. Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido que escutar! Até habeas corpus preventiva, coisa da qual nunca tinha visto falar, sobre o qual minha pobre lógica ainda insiste: esse é o tipo de benefício que só ao culpado interessará! Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear! Mais honesta ainda eu vou ficar! Só de sacanagem!
Dirão: 'Deixe de ser boba! Desde Cabral que aqui todo mundo rouba!
E eu vou dizer: 'Não importa! Será esse o meu carnaval! Vou confiar mais e outra vez. Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos.'
Vamo pagar limpo a quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês. Com o tempo, a gente consegue ser livre, ético e o escambal.
Dirão: 'É inútil! Todo mundo aqui é corrupto desde o primeiro homem que veio de Portugal!'
E eu direi: 'Não admito! Minha esperança é imortal, ouviram? Imortal!'
Sei que não dá pra mudar o começo, mas, se a gente quizer, vai dar pra mudar o final!

Por Elisa Lucinda

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Amar a dois

Você ama João. E ama Jorge. E acha que está ficando louca.

Amenize este diagnóstico. É possível – e nem tão raro assim – amar duas pessoas ao mesmo tempo. Este “ao mesmo tempo” lhe dói, não lhe parece coisa de gente séria, mas lembre-se: você ama de maneiras diferentes. Ninguém possui o poder de saciar 100% outra pessoa. Nesses vácuos é que nascem outro amores.

Você ama João e sua ternura, ama João e seu poder tranquilizante, ama João e a segurança que ele lhe dá, ama João em baixa velocidade, ama João a passeio, apreciando a vista.

Jorge, ao contrário, é mais agitado, desperta em você ansiedade e adolescência, você ama o que Jorge faz com você, e do jeito que faz: com pegada, sedutoramente.

Você ama o que João tem de paz e o que Jorge tem de visceral, você ama o que cada um deles lhe completa. O normal seria isso, amarmos mais de um para alcançarmos integralmente a nós mesmos, mas a regra é clara: não mesmo. Se vire com um só.

E a gente obedece, reza, livrai-nos de todo mal, ó Pai. Escolhe um, o ama, mas sente falta de si mesmo, de desenvolver um outro lado que este amor único não atinge. Separa, casa de novo, agora é outro amor, ama, e ainda não se sente totalmente preenchida. Um dia acontece: dois amores. Um mais constante, outro de vez em quando. Um amor adulto, outro divertido. Um amor de infância; o outro, de aventura.

Tudo isso existe, persiste, insiste em acontecer. Tudo por baixo dos panos, tudo velado, mentido, confessado apenas nos consultórios de analistas e nas mesas de bar, entre amigos de muita confiança. Será que algum dia poderemos falar disso abertamente, em voz alta, fora dos livros, do cinema, na vida cotidiana da gente?

Enquanto ninguém se atreve, mulheres e homens que atravessaram a fronteira da monogamia seguem felizes da vida – e infelizes da vida. 


Por Martha Medeiros

"Tire suas mãos de mim
Eu não pertenço a você
Não é me dominando assim
Que você vai me entender
Eu posso estar sozinho
Mas eu sei muito bem aonde estou
Você pode até duvidar
Acho que isso não é amor".
 
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